Uma Pessoa Deve Sempre Vender os Alicerces de Sua Casa

Artigo Nº 9, 1984



1. “Rabbi Yehuda disse, ´Rav disse, “ Uma pessoa deve vender sempre as vigas da sua casa”. Devemos entender com precisão acerca das vigas da nossa própria casa e a grande importância dos sapatos, ao ponto de vender as vigas por eles, quer dizer, ter a habilidade de colocar os sapatos nos pés. 


2. Devemos interpretá-lo no trabalho. Korat (vigas) vem da palavra Mikreh (acontecimento/ evento) , quer dizer tudo aquilo que a pessoa experiencia na sua casa. Nós entendemos o Homem através – do conhecimento, o que significa através do intelecto; e da emoção, que quer dizer através do que sentimos nos nossos corações- se somos felizes ou infelizes.


3. Estes acontecimentos que experimentamos todos os dias, suscitam as questões no nosso dia a dia. O que se aplica, entre a pessoa e o Criador, bem como entre a pessoa e o seu amigo.


4. Entre uma pessoa e o Criador (Borê), significa que ela se lamenta que o Criador não está a satisfazer todas as suas necessidades. Por outras palavras, que Boré devia realizar o que a pessoa pensa que necessita porque a regra é que a conduta do Bem é fazer bem. E por vezes ela lamenta-se como se sentisse o oposto – que a sua situação é sempre pior que a daqueles que se encontram num grau mais elevado que o seu.


5. Sucede que ela se encontra num estado chamado de “espia” que culpa a Providência porque não encontra o deleite e prazer na sua vida, sendo para ela difícil de dizer “só a bondade e a graça me seguirão todos os dias da minha vida”. Por isso, nessa altura ela está num estado de “espia”.


6. Os nossos Sábios disseram a este respeito (Berachot [bençãos], 54 que “devemos dar graças tanto pelo mal com pelo bem” uma vez que a base do Judaismo está construida na fé acima da razão. Isto significa não confiar no que o intelecto o leva a pensar, dizer e fazer, mas na fé numa Providência benevolente, mais elevada. E precisamente por defender a Providência é-se recompensado com sentir deleite e prazer.


7. Baal HaSulam utilizou uma alegoria sobre uma pessoa que tinha queixas e exigências para com o Criador, que Ele não lhe garantira todos os seus desejos. É como uma pessoa que passeia na rua com uma criança pequena, e a criança chora aflitivamente. Todas as pessoas na rua olham para o pai e pensam “Quão cruel é este homem que pode ouvir o seu filho a chorar sem lhe dar qualquer atenção? O choro da criança faz com que mesmo as pessoas da rua sintam pena pela criança, mas este homem, que é seu pai, não sente. E há uma regra ‘Como um pai que tem compaixão pelos seus filhos’”.


8. O choro da criança fez algumas pessoas ir ter com o pai e perguntarem, “Onde está a sua piedade?” Então o seu pai respondeu, “Que posso eu fazer se o meu filho, que mantenho como a maçã do meu olho, pede-me que lhe dê um alfinete para que coce o olho porque tem uma comichão nos olhos? Posso ser chamado “cruel” por não satisfazer o seu desejo, ou é por piedade que não lho darei para que não o espete no seu olho e fique cego para sempre?


9. Portanto, devemos acreditar que tudo o que o Criador nos dá é para o nosso próprio bem, embora devamos rezar, pelo sim pelo não, que o Criador levantará estes problemas de nós. Contudo, devemos saber que aquele que reza e a garantia da prece são dois assuntos separados. Por outras palavras, se fizermos o que devemos, então o Criador fará o que é bom para nós, tal como na alegoria acima. Sobre isso é dito que, “E o Senhor fará aquilo que Lhe parecer bom.”


10. O mesmo princípio se aplica a uma pessoa e seu amigo, o que significa que ele deve vender as vigas de sua casa e colocar sapatos nos pés. Em outras palavras, uma pessoa deve vender as vigas de sua casa, ou seja, todos os incidentes que a sua casa esperimentou no que diz respeito ao amor de amigos.


11. Alguém pode ter dúvidas e reclamações sobre seu amigo, pois ele está trabalhando com dedicação no amor de amigos, mas ele não vê nenhuma resposta por parte dos amigos que iriam ajudá-lo de qualquer forma. Eles não se estão comportando de acordo com seu entendimento de como o amor de amigos deve ser, o que significa que cada um vai falar com seu amigo de forma respeitável, como é entre indivíduos distintos.


12. Além disso, quanto às ações, ele não vê nenhuma ação por parte dos amigos que ele pode olhar em relação ao amor de amigos. Em vez disso, tudo é normal, como é comum entre as pessoas que ainda não têm um interesse em se unir e tomar a decisão de construir uma sociedade onde existe amor de amigos, onde cada um cuida do bem-estar dos outros.


13. E então ele vê que é tudo conversa fiada. Ele descobre que até na fala não há amor aos outros, e esta é a coisa mais pequena. Por outras palavras, se ele faz a alguém uma pergunta, ele responde-lhe bruscamente, indiferentemente, não da maneira que um responde a um amigo. Em vez disso, é tudo frio, como se ele se quisesse ver livre dele.


14. E não me perguntem, “Se estás a pensar sobre amor aos outros, porque estás tu a criticar se teu amigo te ama, como se amor de amigos fosse estabelecido sobre a base do amor próprio, e é por isso que eu quero ver o que meu amor próprio ganhou deste envolvimento?” Estes não são os meus pensamentos. Em vez disso, eu quero verdadeiramente amar os outros.


15. É por isso que eu estava interessado em estabelecer esta sociedade, para que eu vise que todo e cada um se está a envolver em amor aos outros, para que através disso, o pequeno pedaço de força que eu tenho em amor aos outros fosse aumentada e eu tivesse a força para me envolver em amor aos outros mais poderosamente que eu poderia por mim mesmo. Mas agora eu vejo que não ganhei nada porque eu vejo que nem um e está a fazer bem. Logo,, seria melhor se eu não estivesse com eles e não tivesse aprendido de suas acções.


16. É por isso que eu estava interessado em estabelecer esta sociedade, para que visse que todos e cada um envolvidos no amor dos outros, para que, através dela, o pouco de força que eu tenho no amor pelos outros aumentaria e eu teria a força para me envolver no amor pelos outros de forma mais poderosa do que eu conseguiria por mim próprio. Mas agora eu vejo que nada ganhei, porque vejo que nem sequer um está fazendo o bem. Assim, seria melhor se não estivesse com eles e não tivesse aprendido com as suas acções.


17. Relativamente a isso, existe a resposta que, se uma sociedade é estabelecida com certas pessoas, e quando se hão reunido, deve ter havido alguém que pretendeu estabelecer especificamente este "bando". Assim, ele seleccionou estas pessoas para ver que eram compatíveis entre si. Por outras palavras, cada uma delas possuía uma centelha de amor pelos outros, mas a centelha não podia acender a luz do amor para brilhar em cada um, por isso elas concordaram que, através da sua união, as faíscas tornar-se-iam uma chama grande.


18. Portanto, agora, também, quando ele está espiando-os, ele deve superar e dizer: "como todos eram de uma só mente, que tinham que percorrer o caminho do amor pelos outros, quando a sociedade foi estabelecida, também agora é assim". E quando todos julgarem os seus amigos favoravelmente, todas as centelhas se acederão uma vez mais e novamente haverá uma grande chama.


19. É como Baal HaSulam disse certa vez quando questionado sobre a aliança que dois amigos fazem, tal como encontramos na Torá (Gn 21:27): "Abraão tomou então ovelhas e bois e deu-os a Abimelec, e fizeram aliança entre si". Ele perguntou: "Se os dois se amam, é claro que eles fazem bem um ao outro. E, naturalmente, quando não há amor entre eles por o amor ter diminuído por alguma razão, eles não fazem bem um ao outro. Então, como é que estabelecer uma aliança entre eles pode ajudar? "


20. Ele respondeu que a aliança que fizeram não era para agora, pois agora que o amor é sentido entre eles, não existe necessidade de fazer uma aliança. Pelo contrário, a aliança é para o futuro. Por outras palavras, é possivel que passado algum tempo, eles não sintam o amor como agora, mas manteram as suas relações como antes. Para isto, serve a realização da aliança.


21. Nós também podemos ver que embora agora eles não sentem o amor como quando a sociedade foi criada, todo mundo tem ainda que superar a sua opinião e ir acima da razão. Por isso, tudo será corrigido e cada um vai julgar seu amigo favoravelmente. Agora podemos compreender as palavras de nossos sábios, que disseram: A pessoa deve sempre vender as vigas de sua casa e colocar sapatos nos pés. Minalim [sapatos] vem da palavra Neilat Delet [fechar uma porta], o que significa fechamento. Uma vez que uma pessoa tenha espionado o seu amigo e Rigel [espionado] vem da palavra Raglaim[pés / pernas] ele deveria vender as vigas de sua casa, ou seja, tudo o que aconteceu à sua casa na ligação entre ele e seu amigo, significando que ele tem espiões, que caluniam os amigos.


22. Em seguida, vender tudo significa remover todos os incidentes que os espiões trouxeram para ele e colocar sapatos nos pés, em vez disso. O significado é que ele deveria trancar os espiões como se eles já não existissem na terra, e ele vai deitar fora todas as questões e demandas que ele tem sobre eles. E então tudo chegará ao seu lugar em paz.


Rav Baruch Ashlag, Rabash