A ARVUT (A Garantia Mútua)
(Continuação da Mathan Torah)


Todos os membros de Israel são responsáveis uns pelos outros
(Sanhedrin, 27b, Shavuot 39)

Isso se refere à Arvut (Guarantia Mútua), quando todos em Israel forem responsáveis uns pelos outros. Porque a Torah não foi dada a eles antes que todos respondessem se tomariam para si a Mitzva (preceito) de amar os outros na medida completa, expressa nas palavras: "Amai ao próximo como a ti mesmo" (como explicado nos Itens 2 e 3). Isso significa que todos em Israel tomam para si a responsabilidade de cuidar e trabalhar por cada um dos membros da nação, e de satisfazer todas as suas necessidades; nada menos do que a quantidade impressa neles para cuidar de suas próprias necessidades.

E quando toda a nação, por unanimidade, concordou e disse: "Faremos e Obedeceremos (Êxodo 24, 7)", então, cada membro de Israel se tornou responsável por não faltar nada aos outros membros da nação, e só então se tornaram dignos de receber a Torah, e não antes.

Com essa ampla responsabilidade, cada membro da nação se tornou livre das preocupações com as necessidades do seu próprio corpo, e pôde observar a Mitzva, "Amai ao próximo como a ti mesmo", em toda a sua extensão, e dar tudo que tinha a cada membro necessitado, pois não se preocupava mais com a existência do seu próprio corpo, já que sabia que agora havia seiscentos mil amigos amados e fiéis, prontos a lhe prover subsistência.

É por isso que eles não estavam prontos para receber a Torah na época de Abraão, Isaac e Jacó, mas somente quando saíram do Egito e se tornaram uma nação. Só então houve a possibilidade de que cada um fosse a garantia por cada uma de suas necessidades, sem a mínima precaução e preocupação.

No entanto, quando eles ainda estavam misturados com os Egípcios, uma parte de suas necessidades era necessariamente entregue a estes selvagens, permeada com amor-próprio. Assim, a parte que é entregue aos estrangeiros não será garantida por nenhum indivíduo de Israel, porque seus amigos não serão capazes de suprir essas necessidades, pois eles não estarão de posse das mesmas. Assim, enquanto o indivíduo estiver preocupado consigo mesmo, ele será incapaz até mesmo de começar a observar a Mitzva "Amai ao próximo como a ti mesmo".

E você evidentemente achará que a entrega da Torah teve de ser adiada até que eles saíssem do Egito e se tornassem uma nação por si mesmos, de modo que todas as suas necessidades fossem satisfeitas por eles mesmos, sem depender dos outros. Isso os qualificaria a receber a Arvut mencionada acima, e, então, eles receberiam a Torah. Acontece que mesmo depois da recepção da Torah, se uma minoria deles cometesse a traição e retornasse à imundície do amor-próprio, sem consideração por seus amigos, a mesma quantidade de necessidades que é posta na mão desses poucos sobrecarregariam Israel com a necessidade de provê-los.

Isso porque esses poucos não teriam piedade por essas pessoas; portanto, o cumprimento da Mitzva de amar ao próximo será impedido a todos de Israel. Assim, esses rebeldes fizeram com que aqueles que observam a Torah permanecessem na imundície de seu amor próprio, para que não pudessem observar a Mitzva, "Amai ao próximo como a ti mesmo", e completar seu amor pelos outros sem a ajuda deles.

Como resultado, todos em Israel são responsáveis uns pelos outros, tanto no lado positivo quanto no negativo. No lado positivo, se eles mantiverem a Arvut até que cada um cuide e satisfaça as necessidades de seus amigos, eles poderão observar integralmente a Torah e Mitzvot, ou seja, trazer contentamento ao seu Criador (Item 13). No lado negativo, se uma parte da nação não quiser manter a Arvut, mas sim escolher chafurdar no amor-próprio, ela fará com que o resto da nação mantenha-se imersa em sua imundície e baixeza, sem nunca encontrar a saída de sua imoralidade.

18.

Por conseguinte, a Tana (Rabino Shimon Bar Yochai) descreveu a Arvut como duas pessoas num barco. De repente, uma delas começa a fazer um buraco no barco. Seu amigo perguntou: "Por que você está fazendo esse furo?". E ele respondeu: "O que você tem a ver com isso, eu estou furando debaixo de mim, não de baixo de você", o primeiro homem lhe disse: "Louco! Nós vamos nos afogar juntos!” (VaYikra Rabba, Chapter 4).

Dessa história nós aprendemos que, visto que os rebeldes chafurdaram em amor-próprio, por suas ações eles construíram uma muralha de ferro que impede os observardores da Torah até de começar a observar plenamente a Torah e as Mitzvot, na medida do "Amai ao próximo como a ti mesmo", que é a escada para alcançar a Dvekut (adesão) com Ele. E como são corretas as palavras do provérbio que dizia: "Louco, nós vamos nos afogar juntos!".

19.

O Rabbi Elazar, filho do Rashbi (Rabbi Shimon Bar-Yochai), esclarece mais profundamente o conceito de Arvut. Para ele não basta que todos em Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas o mundo inteiro está incluído nessa Arvut. Realmente, não há controvérsia aqui, já que todos concordam que, no princípio, basta que uma nação observe a Torah para que se comece a correção do mundo. Era impossível começar com todas as nações de uma só vez, já que eles disserem que o Senhor foi com a Torah a cada nação e línguas, e elas não quiserem recebê-la. Em outras palavras, elas estavam imersas na imundície do amor próprio até o pescoço, algumas em adultério, outras em roubo e assassinato, e assim por diante, até que se tornou impossível conceber, naqueles dias, até mesmo perguntar se concordariam em deixar o amor próprio.

Portanto, o Criador não encontrou uma nação ou língua que estivesse qualificada a receber a Torah, exceto os filhos de Abraão, Isaac e Jacó, cuja retidão de seus antepassados refletiu sobre eles, como nossos sábios disseram: “Os Patriarcas observaram toda Torah mesmo antes dela ser dada”. Isto significa que devido à elevação de suas almas eles tinham a capacidade de alcançar todos os caminhos do Senhor com respeito à espiritualidade da Torah, que se origina da Dvekut (adesão) deles, sem antes precisar da parte prática da Torah, a qual eles não tinham possibilidade de observar, como está escrito na “Matan Torah”, item 16.

Sem dúvida, tanto a pureza física quanto a elevação mental de nossos Sagrados Pais influenciaram enormemente os seus filhos e os filhos de seus filhos, e a retidão deles se refletiu naquela geração, cujos membros aceitaram esse sublime trabalho, e cada um deles afirmou claramente: “Faremos e obedeceremos”. Devido a isso, nós fomos escolhidos, pela necessidade, a sermos o povo escolhido entre todas as nações do mundo. Portanto, somente os membros da nação de Israel foram admitidos na Arvut exigida, e não as nações do mundo, pois elas não participaram nisso. E está é a verdaeira realidade, e como poderia o Rabbi Elazar discordar disso?

20.

Porém, o final da correção do mundo será feita ao colocar todas as pessoas do mundo sob Seu reino, como está escrito: “E o Senhor será Rei de toda terra: neste dia o Senhor será Um, e seu nome Um” (Zacarias 14,9). E o texto especifica ”neste dia”, e não antes. E existem vários outros versos: “... e a terra se encherá com o conhecimento do Senhor” (Isaias 11,9) “... e todas as nações correrão a Ele (Isaias 2,2)”.

Mas, o papel de Israel em relação ao resto do mundo se assemelha ao papel dos nossos Sagrados Pais com relação à nação de Israel: da mesma forma que a retidão dos nossos pais nos ajudou a nos desenvolvermos e a nos purificarmos até que sejamos dignos de receber a Torah; se não fosse pelos nossos pais, que observaram a Torah antes dela ser dada, nós certamente não seríamos nem um pouco melhores do que as outras nações (Item 12).

Também é dever da nação de Israel qualificar a si e as pessoas do mundo através da Torah e Mitzvot, para se desenvolverem até que tomem sobre si essa obra sublime de amar ao próximo, que é a escada para alcançar o objetivo da Criação, que é a Dvekut com Ele.

Assim, toda e qualquer Mitzva que cada indivíduo de Israel realiza, a fim de trazer contentamento ao Criador, e não por qualquer auto-gratificação, contribui, de alguma forma, para o desenvolvimento de todas as pessoas do mundo. Pois isso não é feito de uma só vez, mas através de um desenvolvimento lento e gradual, até atingir um nível tal que possa levar todas as pessoas do mundo à purificação desejada. E é isso que os nossos sábios chamam de “alteração do equilíbrio pela virtude”, o que significa que foi atingido o refinamento necessário de pureza. E eles compararam isso à pesagem numa balança, onde a alteração do equilíbrio da balança é a obtenção do peso desejado.

21.

Estas são as palavras do Rabbi Elazar, filho do Rabbi Shimon, que disse que o mundo é julgado por sua maioria. Ele estava se referindo ao papel da nação de Israel de qualificar o mundo para certa medida de pureza, até que eles fossem merecedores de tomar sobre si o trabalho do Criador, não menos do que quando Israel era merecedora no tempo em que recebeu a Torah. Nas palavras dos nossos sábios, considera-se que eles alcançaram virtudes suficientes para superar a escala do pecado, que é a imundície do amor próprio.

Obviamente, se a escala das virtudes, que é a compreensão sublime da bondade do amor ao próximo, transcende a imunície da escala do pecado, eles se qualificam para a decisão e o consentimento de dizer “Faremos e obederemos”, como Israel disse. Mas, antes disso, antes deles alcançarem as virtudes suficientes, o amor próprio certamente os impediria e sentenciaria que eles recusariam assumir Seu ônus.

Os nossos sábios disseram: "Aquele que realiza uma Mitzva é feliz, porque sentenciou a si mesmo e todo o mundo à escala de mérito". Isso significa que um indivíduo de Israel finalmente acrescenta sua própria parte à decisão final, como aquele que pesa sementes de gergelim, e as adiciona uma por uma na balança, até que haja sementes suficientes para alterar o equilíbrio. Certamente, todos tomam parte no processo da mudança, e sem eles, a sentença jamais teria sido concluída. Da mesma forma, é dito sobre os atos de um indivíduo de Israel, que ele sentencia todo o mundo à escala de mérito. Isso porque quando a matéria acabar e o mundo for sentenciado à escala de mérito, cada indivíduo terá tomado parte na mudança, pois sem as suas ações, a mudança teria sido falha.

Assim, você descobre que o Rabbi Elazar, filho do Rabbi Shimon, não discute as palavras dos nossos sábios, de que todos em Israel são responsáveis uns pelos outros. Pelo contrário, o Rabbi Elazar, filho do Rabbi Shimon, fala da correção de todo o mundo na época do fim da correção, enquanto que os nossos sábios falam do presente, quando só Israel assumiu a Torah.

22.

E é isso que o Rabbi Elazar, filho do Rabbi Shimon, fala em seus escritos: "Um pecador destrói muito do bem." Porque já foi visto (item 20) que a impressão que vem ao homem ao lidar com as Mitzvot entre o homem e seu Deus, é totalmente igual à impressão que ele recebe a partir das Mitzvot entre o homem e seu amigo. Porque ele é obrigado a executar todas as Mitzvot em Seu nome, sem qualquer esperança para o amor próprio, o que significa que nenhuma esperança ou brilho vem para ele através deste trabalho em forma de recompensa ou honra etc. Pois aqui, neste elevado ponto, o amor a Deus e o amor ao seu amigo se unem e na realidade, se tornam um.

Acontece que ele apresenta certo grau de progresso na escada ao amar seus companheiros em todas as pessoas do mundo, devido a que esse grau que despertou em suas ações, quer grande ou pequeno, acaba unindo-se ao futuro em mudar o equilíbrio para a direita, pois sua parte foi adicionada ao peso.

Mas, aquele que comete um pecado, que não pode vencer o seu imundo amor próprio, que o torna imóvel ou o faz algo do gênero, muda a si próprio e a todas as pessoas do mundo para o lado errado. Pois com a revelação da imundície do amor próprio a natureza baixa das criaturas é reforçada e ele se encontra subtraindo certa quantidade da mudança certa, igual a uma pessoa que tirasse da balança as sementes de gergelim que seu amigo havia posto, que faz subir muito o lado errado da balança. Acontece que ele faz o mundo inteiro retroceder, como o que foi dito: “Um pecador destrói muito do bem”, como não pode superar seus míseros desejos, puxa a espiritualidade do mundo inteiro para trás.

23.

Com estas palavras entendemos claramente o que já foi dito (item 5), sobre a Torah ser dada especificamente para a nação de Israel, pois é certo e inequívoco que o propósito da criação está nos ombros de toda a raça humana, negros, brancos ou amarelos.

Mas devido a queda da natureza humana para o mais baixo nível, que é o amor próprio que rege a raça humana, não havia mais modo de negociar com eles e persuadí-los a concordar em tomar sobre si, mesmo como uma promessa vazia, a saída deste mundo estreito para espaços amplos de amor ao amigo, exceto da Nação de Israel, pois foram escravizados no selvagem império egípcio por terríveis quatrocentos anos.

Nossos sábios disseram: “Como o sal tempera a carne,a agonia aprimora o homem.” Isto é, trazem ao corpo grande purificação, e mais, a purificação de seus santos pais refletiu-se sobre eles , como atestam os versos da Torah.

Devido ao que foi dito acima, eles foram qualificados para isso, e é a razão pela qual são chamados no singular: “e Israel acampou na frente da montanha (Êxodo 19,2)”, que os nossos sábios interpretam como um homem e um só coração. Isto acontece, pois cada pessoa da nação se desprende totalmente do amor próprio e deseja somente beneficiar seu amigo, como visto acima (item 16) com referência à Mitzva “Ame ao teu próximo como a ti mesmo”. Acontece que todos os indivíduos da nação se uniram e tornaram-se um homem com um só coração, e só depois disso foram qualificados para receber a Torah.

24.

Assim, devido à necessidade acima, a Torah foi dada especificamente para a nação de Israel, os descendentes de Abrão, Isac e Jacó, pois era inconcebível que qualquer estranho fizesse parte nisso. Devido a isso Israel foi construído como um tipo de porta pela qual as fagulhas da purificação brilhariam sobre toda raça humana.

E essas fagulhas se multiplicarão diariamente até que alcancem a quantidade desejada, ou seja, até que elas possam se desenvolver e entender o prazer e a tranqüilidade que é o ponto central de ame o seu amigo. Pois assim saberão como alterar o equilíbrio para a direita e se colocarão sob Seu fardo, e o que é errado será erradicado do mundo

25.

Ainda existe a necessidade de completar o que está escrito acima (item 16) sobre a razão pela qual a Torah não foi dada aos nossos pais, pois o preceito de “ame ao seu próximo como a ti mesmo” que é o ponto fundamental onde todas estas Mitzvot se baseiam, apenas para esclarecer e interpretar, não podem ser observadas por um só indivíduo mas apenas com o consentimento de uma nação inteira.

E isso levou até o êxodo do Egito quando se tornaram merecedores de observá-la, e lhes foi perguntado se cada um da nação estava disposto a tomar sobre si esta Mitzva. E somente quando todos concordaram lhes foi dada a Torah. Entretanto nos resta ver na Torah onde todos concordaram com isso e previamente ao recebimento da Torah.

26.

Tenha em mente, que estas coisas são óbvias para cada pessoa educada no convite que Deus enviou a Israel através de Moisés, antes da recepção da Torah, como está escrito: “Agora, pois, se diligentemente ouvirem a minha voz e guardarem a minha aliança, então serão meu próprio tesouro entre todos os povos, pois toda a terra é minha; e serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. E Moisés veio e chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas essas palavras que o Senhor havia falado, e todas as pessoas responderam juntas, e disseram,: Tudo o que o Senhor falou, nós faremos. E Moisés relatou ao Senhor as palavras do povo. ( Êxodo 19,5)”.

Estas palavras parecem não ter sentido, pois o senso comum nos diz que se uma pessoa oferece um trabalho para seu amigo fazer e quer que ele concorde com isso, deve dar-lhe um exemplo do conteúdo do trabalho e lhe dizer quanto irá pagar por isso. Somente então esse amigo decidirá se faz ou não este trabaho.

Mas lá não encontramos nem o exemplo do trabalho nem o pagamento do mesmo, pois diz, “Agora, pois, se diligentemente ouvirem a minha voz e guardarem a minha aliança” e não interpreta a voz ou nos diz do que se trata a aliança. Depois diz, “então serão meu próprio tesouro entre todos os povos, pois toda a terra é minha”.

Não fica claro se Ele nos comanda a trabalhar para sermos o tesouro (*) entre todos os povos, ou esta é uma promessa boa para nós.

Devemos também entender a conexão das palavras: “pois está terra é minha.” Todos os três intérpretes - Unkalus, Yonatan Ben Uziel, e O Yerushalmi - e todos os intérpretes - Rashi, Ramban, etc. - tentam corrigir o significado literal desta escrita. Mesmo Ezra diz, em nome do Rabbi Marinos, que a palavra “para” significa “apesar de” e ele a interpreta como “então serão meu tesouro entre todos os povos: apesar da terra ser minha.” Até mesmo Ezra tende a concordar com isso, mas essa interpretação não coincide com os nossos sábios que disseram que “para” pode ter quatro significados: “um de dois”, ”que”, “mas”, “para que.”

E acrescenta a quinta interpretação: ”posto que”. E depois diz: “serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada.” Mas aqui também não há evidências nos textos se isto é um preceito que devemos aprofundar, ou uma promessa de benefício. As palavras “um reino de sacerdotes” não se repetem e não são explicadas em nenhum lugar das Escrituras Sagradas.

Aqui é importante determinar a diferença entre “um reino de sacerdotes” e “uma nação sagrada”. Pois o significado comum de sacerdócio é a pessoa com santidade, assim sendo óbvio que um reino onde todos sejam sacerdotes seja considerado uma nação sagrada, então as palavras “nação sagrada” parecem redundantes.

(*)(Segula em hebraico significa remédio ou poder, mas aqui o texto é traduzido como “tesouro”). Ba’al Hasulam usa ambos significados livremente. (C. R.)

27.

Entretanto, por todas estas interpretações que fizemos até agora, aprendemos que o verdadeiro significado destas palavras, indicaria uma forma de negociação com uma oferta e uma aceitação. O que significa que ele realmente quer oferecer-lhes o conteúdo do trabalho da Torah e Mitzvot e que a recompensa será valiosa.

O trabalho na Torah e Mitzvot é expresso nas palavras: “e serão meu reino de sacerdotes”, significa que todos vocês, do mais jovem ao mais velho serão como sacerdotes. Como não têm possessão alguma neste mundo físico, porque o Senhor é a possessão deles, então a nação inteira sera organizada de modo que toda a terra e tudo que nela existe seja devotada ao Senhor. E nenhum individo nela, irá trabalhar a não ser observar os mandamentos de Deus e satisfazer às necessidades de seu amigo, assim nenhuma pessoa terá que se preocupar com ela mesma.

Deste modo, até mesmo os trabalhos mundanos como a colheita ou o plantio, são considerados exatamente como os sacrifícios que os sacerdotes fazem no Templo. Qual a diferença entre guardar a Mitzva fazendo sacrifícios ao Senhor, o que é positivo, e observar a Mitzva ”Ama ao teu próximo como a ti mesmo”? Acontece que aquele que prepara o solo para alimentar o seu amigo é o mesmo que oferece sacrifícios ao Criador. E ainda, parece que o Mitzva, “Ama ao teu próximo como a ti mesmo”, é mais importante do que aquele que faz sacrifícios, como vimos acima (itens 14, 15).

Na verdade, este não é o fim ainda, porque o conjunto da Torah e das Mitzvot foi dado com a única finalidade de purificar Israel, ou seja, é a limpeza do corpo (ver item 12), após a qual ele irá atingir a verdadeira recompensa que é união com Ele, o propósito da criação. E essa recompensa é expressa nas palavras "uma nação sagrada". Através da aderência com Ele, nos tornamos santificados, como está escrito: "Você é sagrado pois Eu, seu Senhor e seu Deus sou santo (Levítico 19, 2)".

E você vê que as palavras "um reino de sacerdotes" expressam de forma completa o trabalho sobre o eixo "Ama teu amigo como a ti mesmo", o que significa um reino onde todos são sacerdotes, que o Senhor é a sua posse, e eles não têm a posse própria das posses mundanas. E temos de admitir que esta é a única definição através da qual podemos compreender a expressão: "um reino de sacerdotes". Porque você não pode interpretá-la no que diz respeito ao sacrifício sobre o altar, pois isso não poderia ter sido dito de toda a nação, pois quem faria os sacrifícios?

E também em relação aos presentes do sacerdócio, quem seriam os doadores? E também com relação à santidade dos sacerdotes, foi dito: "uma nação sagrada". Portanto, isso deve significar que certamente não é só que Deus é a sua posse, mas que lhes falta a posse, para si mesmos, o significado pleno das palavras é: “Ame teu amigo como a ti mesmo", que engloba o conjunto da Torah. E as palavras "uma nação santa" expressa a plena recompensa, que é a aderência.

28.

Agora vamos entender completamente as palavras anteriores, já que ele afirma: “Agora, pois, se diligentemente ouvirem a minha voz e guardarem a minha aliança”, que significa fazer um pacto sobre o que eu disse aqui, vocês se tornarão Meu tesouro entre todas as nações, e faíscas de refinamento e purificação do corpo deverão passar de vocês para todos os povos e as nações do mundo, já que as nações do mundo ainda não estão preparados para isso. E Eu preciso rapidamente uma nação que possa iniciar já e ser como um remédio para todas as outras nações. E, por isso, ele termina: "para que toda a terra seja Minha", que significa que todos os povos da terra pertencem a Mim e estão destinados a se unir a Mim tanto quanto vocês.

Mas agora, como eles ainda são incapazes de cumprir essa tarefa, preciso de pessoas virtuosas, e se vocês concordarem com isso, concordarem em ser o remédio para todas as nações, Eu ordeno que sejam para Mim como um reino de sacerdotes, que é o amor aos homens em sua forma final de “Ama ao teu próximo como a ti mesmo”, e o objetivo da Torah e Mitzvot. E “uma nação sagrada” é a recompensa final da adesão com Ele, que inclui recompensas que não podem nem ser imaginadas.

“É assim que nossos sábios interpretam o final – “Essas são as palavras que deverão ser ditas aos filhos de Israel”.” E foram precisos: “Essas são as palavras”, nem mais nem menos. Isto é espantoso: Como podem falar que Moisés adicionaria ou subtrairia palavras do Senhor, até o ponto em que Ele teria que prevení-lo? Não encontramos nada assim a seu respeito na Torah, pelo contrário, a Torah diz: ”porque ele é o mais confiável em toda minha casa. (números 12,7)”.

29.

Agora podemos compreender completamente a última forma do trabalho, como explicado pelas palavras “um reino de sacerdotes”, que é a definição final de “ama ao teu amigo como a ti mesmo”, já que isto foi concebido por Moisés para conter-se e recusar-se a mostrar o plano completo de todo o trabalho de uma só vez, não que Israel se recusasse a desprender-se por si mesmo das possessões materiais e presentear sua fortuna e bens ao Criador, mas, como nas palavras, ”uma nação sagrada”.

Muito parecido com o que RAMBAM escreveu que mulheres e crianças não devem saber sobre o trabalho limpo, já que não devem receber recompensa por ele, e esperar até que cresçam e se tornem sábios e tenham coragem para executá-lo. Portanto o Senhor advertiu Moisés para que oferecesse a eles a verdadeira natureza do trabalho, como expressas nas palavras “um reino de sacerdotes”.

E com relação às recompensas definidas em “uma nação sagrada”, aqui também Moises pode ter pensado em elaborar mais sobre os prazeres que viriam da adesão ao Criador, e assim persuadí-los a aceitar e se desvencilhar das possessões deste mundo. Assim, ele foi advertido para não falar sobre toda a recompensa incluída na expressão “uma nação sagrada”.

A razão para isso é que se ele tivesse dito a eles sobre as coisas maravilhosas que são a essência da recompensa, eles teriam aceito Sua obra a fim de obter essa maravilhosa recompensa para si, o que seria considerado trabalhar para si, para o amor-próprio. Que, por sua vez, teria falsificado todo o propósito.

Assim, vemos que no que diz respeito à forma do trabalho que está expresso nas palavras "um reino de sacerdotes" foi-lhe dito "não menos", e sobre a medida da recompensa, expresso nas palavras "uma nação santa", foi lhe dito "não mais".