CAINDO NO BURACO NEGRO DO EGOISMO PELA ÚLTIMA VEZ Publicado em 28 de maio, às 23h10min


Coisas. Elas enchem nossos armários, nossas garagens e nossas vidas. Nós medimos o sucesso na vida pelas coisas que possuímos e ainda mais - gastamos uma incrível quantidade de tempo para comprá-las. Um novo documentário, A História das Coisas, exibe como uma grande parte de nossas vidas foi tomada pelas “coisas”. A sabedoria da Cabala mostra o que podemos fazer a respeito disto.

Annie Leonard, uma especialista internacional em questões de saúde ambiental e sustentabilidade, gastou dez anos seguindo “coisas” desde o seu surgimento como matéria prima até seu fim no lixo. Seu documentário, “A História das Coisas” pode ser classificado tanto como entretenimento como filme educacional e já foi assistido por mais de três milhões de pessoas (www.storyofstuff.com).

Annie descreve o problema simplesmente: “Nós nos transformamos em uma nação de consumidores. Nossa identidade principal se tornou ser consumidores. Não mães, professores, ou agricultores – mas consumidores”. Sua maior preocupação é com o fato de que esta nossa mania consumista destrói nosso equilíbrio com a natureza e arruína a vida das pessoas. E tudo isso acontece longe dos olhos do público.

A seguir alguns fatos descobertos por ela:


Mas ainda há mais poeira debaixo do tapete. Annie nos revela que “tudo isto não acontece apenas – foi assim projetado”.

Porque o Shopping se Tornou o Passatempo Nacional

Talvez o fato mais chocante revelado pela extensa pesquisa da Annie seja o de que nossa “sociedade do descarte” tenha sido cuidadosamente orquestrada pelo governo americano, com o objetivo de revitalizar a economia depois da segunda guerra mundial. Naquela época, o analista de varejo Victor Lebow propôs um plano ambicioso: “Nossa economia altamente produtiva necessita que façamos do consumo o nosso modo de vida; que convertamos a compra e uso de produtos em rituais; que busquemos nossa satisfação espiritual, a satisfação de nosso ego no consumo. Nós precisamos que as coisas sejam consumidas, queimadas, atualizadas e descartadas a uma taxa sempre cada vez maior”.

E foi assim que a bola do consumismo começou a rolar. Todos os americanos são inundados diariamente por mais de 3.000 anúncios, incitando-os a comprar mais “coisas”. As empresas projetam produtos para que se tornem obsoletos tão rapidamente quanto possível. As prateleiras são carregadas constantemente com produtos descartáveis, para nossa conveniência. Qual o resultado?

“Nós compramos e compramos e compramos, mantendo os materiais em movimento contínuo! E o fluxo é permanente”, nas simples palavras de Annie. Nossas vidas inteiras estão sendo resumidas a trabalhar, comprar e voltar a trabalhar para pagar pelas coisas que acabamos de comprar. E com esse círculo vicioso sem fim, não é nenhuma surpresa que as pesquisas nacionais indiquem que a felicidade nacional está atualmente em declínio.

É realmente assim que queremos dirigir nossas vidas e nossa economia? Temos que realmente continuar submetendo nossas vidas a um sistema que arruína a vida das pessoas, destrói o ambiente, nos tira completamente fora do equilíbrio com a natureza e – no final do dia – não nos faz realmente felizes?!

A Cabala explica o “Desejo de Consumir”

“A História das Coisas” conclui falando sobre uma variedade de estratégias “verdes” que poderiam melhorar a situação. Entretanto, Annie também se dá conta que “tudo só começará a se movimentar realmente quando virmos as conexões, quando virmos a grande fotografia”.

Na realidade, a sabedoria da Cabala tem tudo a ver com identificar estas “conexões”. Ela explica que precisamos mergulhar nos bastidores e revelar que a força motriz que motiva nosso “desejo de consumir” assim como os sistemas que a alimentam, não é outra que senão nossa própria natureza – o egoísmo humano.

Foi por esta razão que adotamos tão rapidamente a estratégia de consumo de Lebow – ela encaixou perfeitamente com nossa natureza egoísta! Entretanto o que ele não levou em consideração foi o fato de que um dia nós começaríamos a realizar nosso verdadeiro e espiritual propósito. E que esperar que o consumismo gerasse a “satisfação espiritual” mostra quão enganado ele estava com relação ao verdadeiro significado deste termo.

Sob a perspectiva da Cabala (ou qualquer outra perspectiva), é cristalina a impossibilidade de que bens de consumo possam nos trazer satisfação espiritual – em palavras simples – verdadeira e duradoura felicidade. A satisfação espiritual só pode ser alcançada pela harmonização com a qualidade, inerente à natureza, de amor e doação completos.

Mas como esta qualidade nos é oculta, sentimos apenas a nossa falta de equilíbrio com ela – refletida em todas as dificuldades que observamos ao nosso redor, sejam entre nós mesmos ou entre nós e a natureza. Os Cabalistas afirmam que estar em equilíbrio com a qualidade de doação da natureza é o único meio para sermos verdadeiramente felizes. Além do que, adquirindo esta qualidade alcançaremos uma nova percepção, mais completa e nós experimentaremos a vida em um nível completamente diferente.

Mas para isto, uma coisa devemos mudar – nossa natureza egoísta.

A Mudança Começa Apenas Interiormente

A Cabala explica que o modo pelo qual levamos nossas vidas pessoais e a maneira como tratamos todo o planeta é uma conseqüência direta da nossa natureza interior. Se desejamos que algo mude no exterior, temos que nos livrar das garras do nosso ego em nossas escolhas e valores. E a Cabala nos fornece a maneira de fazer exatamente isto.

Nosso propósito é muito mais elevado do que nos mantermos escravos do nosso próprio sistema de consumo. Nem se limita apenas a um simples “modo de vida verde”, ou o melhor uso dos recursos. O Cabalista Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) escreveu que: “O objetivo de toda a Criação é aderir ao Criador pela equivalência de forma” (“A Liberdade”)

Em português corrente isto significa que o propósito do homem é alcançar o equilíbrio com a natureza internamente, equilibrar seu egoísmo intrínseco com o altruísmo intrínseco da natureza e assim sentir o nível de realidade perfeito e eterno.

Quando alcançarmos nossa transformação interna, a visão de Annie de uma “economia “verde” e unificada” também se tornará verdade. Ao atingir a qualidade da natureza de doação, as pessoas se transformarão e a partir disso transformaremos naturalmente nossos sistemas terrenos. Mas a mudança, diz a Cabala, só pode começar de dentro.

“Na medida em que não elevarmos nosso objetivo acima da vida corporal, não atingiremos sua restauração, porque o espiritual e o corporal não podem viver em um mesmo recipiente”.

Cabalista Yehuda Ashlag (Baal HaSulam)
“Exile and Redemption” (Exílio e Redenção)