1. PERCEBENDO OS DESEJOS

Como pode uma pessoa perceber o desejo? Para uma pessoa saber o que quer, é preciso primeiro provar, porque a prova deixa uma percepção ou gosto agradável. A satisfação foi sentida e agora se foi, deixando a vontade de sentir novamente. É disto que o verdadeiro Kli deve consistir. Ou seja, a luz no passado o preencheu completamente e o Kli sentiu a força total na sensação da presença da luz. Então a luz desapareceu e o Kli aspira com toda a paixão, voltar a sentir o prazer da luz novamente.

Agora, veremos como a alma é construída e a razão porque nós precisamos trabalhá-la. A alma é a única coisa criada. Através de seus cinco filtros, ela recebe dentro de si sensações visuais, auditivas, olfatórias, gustativas e tácteis. O suporte por trás destes cinco orgãos sensoriais é similar a um programa de computador. Ele traduz o que está no exterior em uma linguagem que nós possamos entender, ou seja, prazer ou dor. Percebemos quando algo é bom ou máu no ponto mais central de nossa alma.

Se o computador está executando um programa natural, este programa é projetado para satisfazer a tomada egoista do bom e do máu. Se estiver executando um programa altruísta então a noção de bom ou máu não é avaliada em relação a si próprio mas sim em relação ao que está do lado de fora, e isto é a luz ou o Criador.

Agora podemos ver que existem duas opções de programa para as avaliações e escolhas da alma:

  1. a) egoísta, para seu próprio benefício
  2. b) altruísta, para benefício do Criador
Enfim, além do Criador e a criação, ou da luz/prazer ou do desejo/vaso, nada mais existe no universo.

No processo natural, a pessoa nasce com o programa egoísta. Assim uma imagem reversa é impressa ou projetada egoìsticamente no fundo de nossa consciência ou cérebro. Esta imagem é chamada "Nosso Mundo".

Nós não percebemos nada além da luz. Entretanto, se a luz passa pelo processo egoísta, ela se manifesta em nós como o "Nosso Mundo". Nosso desejo egoista executa seu processamento, adicionando obstáculos pela seleção de tudo o que é bom e descartando tudo o que é máu. Este é o programa de auto preservação do organismo, e se não o tivéssemos, nossa visão do mundo seria completamente diferente. Sem ele, as imagens seriam impressas na frente da alma e revelariam para a pessoa, tudo o que existe no exterior de um modo objetivo, ao invés do que percebemos em nosso interior, de forma subjetiva e para o nosso próprio benefício. O que está no exterior é chamado de "a luz" ou "O Criador".

Para reprogramar o computador do modo egoísta para o modo altruísta, existe a Ciência da Cabala, a qual nos ajuda a receber a imagem externa genuína, sem a capa do egoísmo. Seremos capazes de sentir o verdadeiro universo que existe em nosso exterior. Este estado é chamado de "unificação com a luz", quando não há obstáculos entre a alma e a luz.

Isto é ligeiramente similar ao que acontece quando uma pessoa se encontra no estado de morte clínica e foi parcialmente separada do corpo egoista (ou do organismo animal). Ela vê a luz na sua frente e se sente atraída para ela mas é impedida de alcançá-la porque ainda não se libertou do egoismo espiritual. Como uma pessoa só consegue se libertar dele junto com o egoismo animal do corpo, todo o trabalho ocupa uma existência inteira ou diversas vidas no corpo animal.

Podemos nos libertar fàcilmente do egoismo espiritual se soubermos quais obstáculos o egoismo adiciona ao nosso computador interno. Todas as informações passam por cinco filtros, chamados de "as cinco partes de malchut", ou "cinco partes do egoismo dominante". Estes cinco canais processam todas as informações recebidas do exterior, convertendo-as em informações que satisfazem o egoismo, separando o que é bom para o egoismo do que é máu. Todos os sinais passam por uma largura específica de filtros (Aviut), que varia de pessoa para pessoa.

Quanto mais reincarnações a nossa alma atravessa, maior se torna o Aviut. Significa que a pessoa se torna menos refinada, mais orientada aos objetivos e mais preparada para a correção. Por outro lado, aquelas cujo egoismo é menos desenvolvido não tem muitas exigências, se satisfazem com pouco. Assim, um grande egoista está pronto para a correção porque sente uma maior necessidade de ser preenchido com a luz.

Como surge a necessidade de corrigir o programa do computador? Ela aparece quando o desenvolvimento do Aviut na pessoa alcança o seu máximo. Isto acontece depois de muitas reincarnações ou vidas em nosso mundo. Não apenas na vida humana, mas também nos animais, plantas e na natureza inanimada. Toda a natureza, com exceção do homem, ascende com ele e depende de seu estado.

Quando o Aviut de uma pessoa atinge seu valor máximo, ele ocasiona uma diferença máxima entre a luz e a imagem que ela percebe. Isto resulta na ativação de um interruptor interno, dando à pessoa a sensação de que agora e no futuro não pode mais se satisfazer com nada.

Quando este sinal ocorre, a pessoa para de procurar algo dentro de si mesma ou por trás de sua alma e passa a querer perceber o exterior. Busca em várias filosofias ou metodologias até que finalmente encontra a Cabala. É então especìficamente que ela se torna capaz de encontrar aquilo que procurava há tanto tempo.

A Cabala é a metodologia que transforma estes filtros. Ela não os remove mas apenas os reconstróe ou os sintoniza desde a intenção egoista de receber prazer para si mesmo até a intenção altruística de doar prazer. Mais precisamente, a intenção altruística de receber prazer com o objetivo de doar, já que tudo é relativo ao Criador. Ou seja, nós não possuímos nada para doar para Ele exceto receber prazer em Seu benefício.

Desta maneira, os mesmos filtros podem ser usados para receber, mas apenas em benefício da luz ou do Criador. Assim, a informação que vem do exterior não será distorcida de nenhum modo. Ao contrário, ela aparecerá exatamente como existe na realidade, ou no exterior. Quando isto acontece, todo o programa da criação chega ao fim, já que agora o programa nos permite existir sem nenhum obstáculo do nosso "ego". Isto é, existir, perceber e viver no universo genuíno. Todos os prazeres do nosso mundo, que a humanidade percebeu e perceberá no futuro equivalem a apenas 1/600.000 do prazer contido na menor luz possível (Nefesh).

Quando uma única alma é corrigida, ela recebe a luz, integralmente e sem limites, e se coloca à frente de todas as almas. Ela observa tudo até que a informação ou prazer atinja todas as demais almas.

O Aviut é incluido na primeira aparição ou encarnação da pessoa neste mundo. Entretanto, a Cabala pode desenvolvê-lo em grandes proporções, abreviando o número de vidas ou reincarnações. Isto é, ela pode acelerar o processo de amadurecimento da pessoa para a assimilação do domínio espiritual.

O sofrimento humano é a expressão externa do que está faltando. O sofrimento não desaparece, mas a Cabala substitue o sofrimento animal pelo espiritual. Este é o sofrimento decorrente da ausência da percepção espiritual. Esta mudança qualitativa do sofrimento leva à reconstrução do Kli interno ou da alma. A percepção da luz se desenvolve em correspondência com a aspiração. O resultado é que tudo que levava gerações para se realizar, agora acontece em alguns anos.

Você pode perguntar: "Por que algumas vezes é impossível perguntar ou formular uma pergunta?" Isto acontece porque a pessoa não é capaz de sentir dentro de si o que estamos falando. Nada lhe foi ainda revelado, logo ela não responde ao que está ouvindo.

A estrutura da alma é a seguinte: A luz que emana do Criador, cria o desejo de receber prazer. Este desejo é chamado de Malchut. Antes do Malchut, a luz passa por nove estágios a medida em que vai se transformando, até que seja capaz de criar Malchut. Os nove estágios pelos quais a luz passa são chamados Keter, Chochma, Bina, Chesed, Gvura, Tifferet, Netzah, Hod e Yesod. Só então ela cria o último estágio, o Malchut. Os seis estágios desde Hesed até Yesod são chamados Zeir Anpin.

No total existem dez Sefirot (estágios), que são: nove níveis da luz mais um que é o Malchut, o desejo de receber. Malchut é a alma da criação real, que sente que deseja receber prazer da luz. Malchut começa a receber a luz e com ela as suas propriedades. Mesmo em nosso mundo, sabemos que qualquer influência sobre nós cria sua própria reflexão em nosso interior. A mesma coisa acontece com Malchut quando ele recebe a luz das nove Sefirot superiores.

Vemos que uma única estrutura egoísta, Malchut, adquiriu da luz, mais nove atributos altruístas adicionais, ao receber a luz dos nove Sefirot da luz. A informação externa da luz não sofre nenhuma distorção ao passar pelos nove atributos altruístas do Malchut, pois não existem barreiras egoístas. Esta luz apenas diminue. Ela se reduz para que a alma fique òtimamente preenchida, evitando uma sobrecarga que causaria sofrimento.

Entretanto, há uma parte a mais em Malchut que recebeu os atributos altruísticos da luz e se tornou equivalente a ela em seu desejo de doar, que não é a décima parte. Há ainda uma parte adicional em Malchut que é completamente incapaz de perceber os atributos da luz e por isto não pode mudar. Esta parte é chamada "Lev a-Even” ou “o coração de pedra.

Nosso trabalho consiste em deixar esta parte para trás, chamada nosso "Eu"; parar o trabalho porque ela será sempre egoísta, até o fim da correção e a chegada do Mashiach. Por isto é necessário efetuar uma restrição (Tzimtzum Alef) nesta parte do Malchut; Ou seja, não usá-la de modo algum.

Malchut, ou o décimo Sefira (estágio), é a parte de Malchut que recebeu os atributos da luz e foi capaz de sentir os atributos da luz que o preencheram. Assim sendo, ele é capaz de se transformar - ele deve mudar gradualmente e passar a agir da mesma maneira que a luz. Para conduzir efetivamente os atributos da luz para o Malchut, é necessária uma ação denominada “Shvira”, significando a quebra ou o golpe. Como consequência desta ação, os atributos dos primeiros nove Sefirot penetram no Malchut.

Mas não basta apenas entender que os atributos da luz e do Malchut são opostos entre si. O Malchut tem que agir do mesmo modo que a luz; ele precisa se tornar equivalente aos nove Sefirot. Entretanto, como ele pode fazer isto se a luz não penetra em seu interior? Para alcançar este objetivo, acontece a quebra (Shvirat) do Kelim, ou a quebra dos desejos. Isto é conseguido pelo "golpe da luz", que atravessa todos os nove Sefirot e penetra em Malchut. Agora, Malchut fica misturado e entrelaçado com todos os nove Sefirot. Isto é chamado “Shvirat HaKelim” ou a queda pecaminosa.

Depois de acontecer o Shvirat Kelim, quatro tipos de desejos são formados. Eles são:

  1. a) os desejos altruísticos puros que estavam nos nove Sefirot
  2. b) os desejos altruísticos que se misturaram aos desejos egoistas
  3. c) os desejos egoistas que se misturaram aos desejos altruísticos
  4. d) os desejos egoistas puros

Assim, dois tipos de desejos, o altruístico puro e o egoista puro, tendo caído durante a Shvirat Kelim e se misturado entre si, criaram mais dois tipos de desejos mistos.

Somente agora se tornou possível criar uma alma na qual o Malchut é corrigido da mesma forma que os nove primeiros Sefirot. Isto porque qualquer desejo egoista agora tem uma faisca de altruismo. Com isto, um tipo especial de força é necessária, a força da correção. Esta força faz com que cada faisca de altruismo se torne a parte preponderante do desejo, capaz de corrigir inteiramente o desejo egoista.

Como isto acontece? Tomemos um livro sobre a Cabala, escrito por um Cabalista que já tenha se corrigido em correpondência com a luz. Quando uma pessoa lê este tipo de livro, o que ocorre é a transmissão das instruções de como construir o seu Kli interno em correspondência com a luz. Lendo este livro, mesmo sem a completa compreensão do texto, nós atraimos para nós a luz circundante, a qual gradualmente limpa e corrige nossos desejos.

Estudar sob a supervisão de um professor-Cabalista, junto a um grupo de pessoas que buscam atingir o objetivo da criação ou a equivalência com o Criador, é altamente efetivo!

Estudando a Cabala também encontramos a explicação sobre a ordem em que as partes de nossa alma serão corrigidas, se dirigirmos nosso desejo de acordo com os desejos corrigidos do Cabalista que escreveu o livro.

Na medida em que a pessoa se corrige, ela começa a sentir gradualmente que seus desejos estão partidos. Aprende a diferenciá-los, classificá-los de acordo com a qualidade e quantidade, combiná-los em determinada ordem e agrupá-los. O caminho é longo mas é especial e interessante. A pessoa começa a comprender novos atributos em si mesma, percebendo que ela é a criação e se tornando consciente de sua ligação com o Criador e as demais partes do universo. O que acontece é o entendimento de como todo o nosso sistema externo é construido e como funciona a governança superior.

O objetivo do Criador para nós é em primeiro lugar começar a assumir o contrôle sobre nós mesmos e então sobre todo o mundo, substituindo assim o Criador. Em nosso mundo seguimos manifestações particulares da luz como o prazer que recebemos do conhecimento, poder, sexo, comida e crianças.

Quando a luz chega e nos preenche completa e ilimitadamente, ela é imediatamente percebida como perfeição e prazer. Não restam mais desejos na pessoa. O processo de absorção é gradual e é chamado de “Sulam” ou "escada". Baal HaSulam escreveu sobre isto e é assim chamado em homenagem ao sistema de ascenção espiritual que desenvolveu, chamado "Sulam" em seus comentários ao "Livro do Zohar.

O Criador criou uma alma coletiva chamada Adam, que se partiu em 600.000 partes, cada uma consistindo de quatro desejos. A tarefa de cada pessoa é corrigir além de si mesma, sua parte na alma coletiva. Cada pessoa deve corrigir sua relação com todas as 600.000 almas, pois é assim que corrige a si mesma; cada outra pessoa, por sua vez, consiste de 600.000 partes, e os primeiros nove Sefirot penetram em cada uma delas.

As almas só podem ser corrigidas através de seus corpos e os corpos são corrigidos em grupo através de várias ações mecânicas, direcionadas ao atingimento de um só objetivo. Existem duas ações mecânicas: estudar e realizar trabalhos coletivos com o objetivo de correção espiritual da alma.

Uma pessoa não tem capacidade de corrigir os seus desejos já que eles foram criados pela luz. É necessário apenas redirecionar o foco dos desejos, ou para que finalidade ela quer realizar estes desejos. Se ela não realiza temporariamente um desejo, ele voltará mais tarde e de forma muito distorcida.

Precisamos trabalhar em como usar corretamente estes desejos. Não podemos esmorecer nem nos torturarmos ou fugir. O que precisa ser corrigido é a intenção com a qual usamos nossos desejos. Se fizermos isto, veremos que todos os desejos são necessários para que atinjamos nossos objetivos. É por isto que dizem que a pessoa mais egoista tem maiores desejos. Ou ainda, que depois da destruição do Templo, apenas os Cabalistas tem a percepçao dos desejos terrenos.