3. CINCO MUNDOS - CINCO NÍVEIS DO DESEJO DE RECEBER


Existem cinco mundos entre o Criador e o nosso mundo. Eles são chamados: Adam Kadmon, Atzilut, Beria, Yetzira e Assiya. Abaixo do mundo de Assiya fica Machsom, e abaixo o nosso mundo. Nosso objetivo, enquanto vivendo em nosso mundo, é que nossa alma atinja o nível do mundo de Ein Sof, ou seja, consiga a unificação completa com o Criador. Isto é, quando nossa alma reveste o corpo neste mundo, ela deverá mudar os seus atributos do egoismo para os atributos do Criador, em cada nível espiritual, até que nosso egoismo total seja substituido pelo altruismo. Quando isto ocorre, os atributos da nossa alma se tornam completamente equivalentes ao atributo do Criador.

Em nosso mundo, dois atributos egoistas são habilitados: "receber pela recepção" e "doar pela recepção". Os mundos espirituais consistem do seguinte atributo: "doar por doar" ou "receber para doar". A primeira tarefa de uma pessoa que quer entrar no "mundo que virá" é restringir o uso de seus desejos ou realizar o Tzimtzum Alef. Significa parar de trabalhar com o egoismo ou os desejos egoistas.

Náo podemos mudar nosso "desejo de receber" porque esta é a única coisa criada pelo Criador. Entretanto é possível e necessário mudar a intenção do desejo de "receber para seu próprio benefício" para a intenção de "receber para o benefício do Criador". Assim, podemos ver que a ação não se modifica , é apenas a intenção que muda.

A metodologia de mudar a intenção (algo que ninguem consegue ver e que está oculto de todos) é chamada de a Ciência Secreta da Cabala. É a metodologia de como receber mudando a intenção. O importante é o que estamos pensando quando desenvolvemos uma determinada ação e qual o objetivo que é perseguido quando a realizamos. Todos os 125 níveis são gráus de correção gradual da intenção da alma, desde receber em seu próprio benefício para receber em benefício do Criador.

Os cinco mundos são níveis do desejo de receber, começando pelo mais fraco (Keter) e terminando com o mais forte (Malchut). Eles são construidos desde o topo (o Criador) e descendo até a criação. Na medida em que a luz vem do Criador e atravessa os mundos, ela vai se tornando mais fraca, logo, adequada a ser percebida pelos fracos desejos egoistas. Quando a alma recebe a luz de correção do alto, ela começa a mudar a intenção de "para seu próprio benefício" para "receber em benefício do Criador", ou "doar".

A alma alcança a linha da Machsom apenas se realizar o Tzimtzum Alef em todos os desejos que consegue perceber nesse estado, ou seja, quando se recusa completamente a operar com o egoismo. Entretanto, ela ainda não é capaz de receber nada em benefício do Criador.

Quando a alma corrige sua intenção de doar ao nível de Keter ela entra no mundo de Assiya localizado acima de Malchut. Isto é, quando ela é capaz de se opor ao egoismo o mais fraco possível, não recebendo nada e se anulando na luz superior. Se a alma for capaz de se opor ao egoismo na luz de Hochma, ela ascende ao nível do mundo de Yetzira.

A alma continua desta maneira, aumentando progressivamente sua capacidade de trabalhar contra as forças egoistas cada vez maiores, ascendendo ao nível espiritual seguinte, até alcançar o mundo de Ein Sof. A alma adquire sua essência como substância espiritual apenas após cruzar a Machson e continuar sua ascenção.

No mundo espiritual a pessoa lida com os desejos naturais, não revestidos pelas diversas aparências do nosso mundo. Um Cabalista que está no mundo espiritual, para de investigar o nosso mundo porque o percebe corretamente como o resultado natural do ramo correspondente à raiz espiritual. Para ele é mais interessante ver a causa ou a origem na raiz ao invés da consequência, localizada em um nível incomparávelmente mais baixo que a raiz, de onde todos os desejos e causas se originam.

Uma pessoa que ascende, transforma todos os desejos terrenos em desejo pelo Criador. Inicialmante quer possuir o Criador egoisticamente, do mesmo modo que desejava receber tudo neste mundo. Como se diz: uma pessoa deseja tanto o Criador que esta paixão não a deixa dormir!.

Gradualmente, uma luz chamada Ohr Makif, que constantemente envolve uma pessoa, começa a brilhar para ela, de modo que ela consegue uma solicitação pelo espiritual, com a ajuda desta luz, usando um desejo bem mais forte que todos os outros desejos. E finalmente, com o auxílio desta mesma luz, a pessoa atravessa a Machsom e recebe a intenção de doar.

Apenas a luz superior do Criador é capaz de elevar assim uma pessoa; fornecer-lhe a resposta para todos os seus esforços humanos pelo espiritual, trazê-la para o estado em que o desejo pelo espiritual é tão grande que não a deixa cair no sono e suplanta todos os demais desejos.

Todas as almas seguem, em seu caminho, estes mesmos estados, mas a atribuição de cada alma neste mundo é diferente. É tambem diferente a velocidade com que cada alma atravessa pelo mesmo caminho.

Cada pensamento, cada desejo e cada movimento de uma pessoa neste mundo, não importa qual pessoa, lhe é dado com um só objetivo: ascender e se acercar do espiritual. Entretanto, a maioria das pessoas segue esta progressão de uma maneira natural nos níveis humano inconsciente, animal, vegetativo e inerte.

Tudo está predeterminado e pré-programado pelo objetivo da criação. A livre escolha da pessoa consiste em optar por concordar com tudo o que lhe acontece ou começar a entender o objetivo para o qual tudo está direcionado e decidir ser um participante ativo em todos os eventos que acontecem com ela.

Todos os pensamentos e desejos no mundo de Ein Sof passam pela pessoa. Entretanto ela "capta" apenas os pensamentos correspondentes ao seu nível. Neste nível atual, a pessoa não é capaz de pensar sobre novas descobertas. Entretanto, na medida em que vai aumentando o nível de seu conhecimento e seus conceitos, ela começa subitamente a sonhar com algo complexo. Isto significa que ela deseja sentir e perceber um domínio mais complexo de percepções.

O domínio de atividades de uma pessoa ou a imagem que ela constróe com a percepção deste mundo aonde ela vive é construído desta maneira. Quando a pessoa se desenvolve, ela passa a ter pensamentoa mais profundos, com uma conexão diferente entre as coisas. Tudo então dependerá do nível de desenvolvimento da pessoa, pois este determina suas fronteiras de percepção ou que parte do mundo do Infinito ela perceberá.

Não há outra maneira de desenvolver o desejo pelo espiritual, de invocar a Ohr Makif para participar pessoalmente da realização do objetivo da criação e reduzir o caminho natural para alcançar esta objetivo, que não seja estudar em grupo sob a orientação de um professor. Apenas a luz que começa a brilhar pode nos ajudar a transformar nossos atributos egoistas (o único obstáculo no caminho espiritual) em propriedades altruistas.

Ohr Makif muda o nosso desejo para o desejo de doar e nos leva através da Machsom. Nós afirmamos que não queremos nada do mundo material e queremos apenas o espiritual. Se soubéssemos que atravessar a Machsom significa mudar a intenção com relação a quem e o que nós pensamos e nos preocupamos, nós iríamos correndo.

Continuando, entramos no território acima da Machsom onde encontramos um oceano de luz. Esta é a luz do Criador, que brilha sobre nós na mesma proporção em que nossa exaltação pelo Criador é maior que o nosso desejo egoista. Isto nos dá a oportunidade de adquirir a propriedade da luz, ou de doar.

O mais importante é atravessar a Machsom. A alma que recebeu a luz sabe todo o caminho que se segue à passagem, por que a luz lhe ensina. Lá encontraremos um mapa claro e as instruções para cada passo e ação subsequente. São as instruções que os Cabalistas nos escreveram em seus livros.

Cada mau pensamento é oposto aos bons pensamentos do Criador, mas como transformar um mau pensamento em bom? Primeiro é preciso entender que o pensamento é mau; comprender sua maldade para poder tomar a decisão de corrigí-lo. Só podemos identificar o mal sob a luz do Criador ou em Sua grandeza. Entretanto se a luz não brilha em uma pessoa ela está cega e na escuridão, abaixo da Machsom, onde a luz não penetra. A pessoa existe neste mundo e acredita que todos os seus pensamentos são bons.

Quando uma pessoa é iluminada pela luz do Alto ou a luz circundante chamada Ohr Makif, ela começa a ver toda a sua essência. Isto se chama "a realização do mal". Sem esta iluminação pela luz, a pessoa tenta se justificar e se acha sempre correta. Entretanto, a realização do próprio ego pela iluminação da luz leva a pessoa a pedir a ajuda do Criador. E ainda, graças à iluminação, a pessoa já percebe a fonte da iluminação e sabe precisamente para Quem precisa apelar.

Se o apelo da pessoa é genuíno, o Criador fará a alteração de sua natureza. Entretanto, o desejo de receber não muda; a única coisa que muda é a intenção de "receber em seu próprio benefício" para "receber para o Criador", o que corresponde a doar. É assim que a mudança gradual dos atributos da pessoa para os atributos do Criador se dará em cada um dos 125 níveis.

Cada nível inclue diversos processos:

  1. a realização do mal: quanto pior a pessoa está na linha esquerda, em relação ao Criador;
  2. que ajuda precisa receber do Criador em Sua linha direita;
  3. a combinação entre as linhas direita e esquerda; quanto a pessoa pode receber da linha direita, ou seja, passar para a linha central.

Como resultado destas ações, mais uma parte dos desejos de uma pessoa se tornam equivalentes ao Criador, permitindo que ela passe para o nível seguinte. Isto prossegue em cada nível, até que todos os atributos da pessoa se tornem iguais aos atributos do Criador.

Os desejos de uma pessoa determinam sua ação. É impossível realizar ações sem desejos! Por exemplo, amanhã tenho que acordar cedo, logo hoje vou dormir cedo. Estou fazendo isto contra o meu desejo? Não! Ninguem neste mundo é capaz de realizar ações sem o desejo e sem preencher este desejo com prazer. O desejo é a energia ou a força motriz que dá a uma pessoa a oportunidade de fazer algo.

As vezes nos parece que estamos fazendo algo contra o nosso desejo. Este não é o caso. Fazemos um cálculo bem simples, que fazer isto é benéfico mesmo se contra o desejo. Se for benéfico para a pessoa, ela executará varias ações desagradáveis e indesejadas.

Pela escolha, uma pessoa é capaz de trazer para perto outro desejo, criá-lo e realizá-lo. Nenhum de nós seria capaz de mover nem o dedo sem receber a força motriz para isto ou fazer se aproximar outro desejo.

A pessoa que faz algo bom para outra pessoa pensa que isto é realmente o caso e que esta ação não é egoista. Entretanto, se penetrar no fundo dos seus pensamentos ela verá que tudo o que ela faz tem sòmente um objetivo: fazer algo bom para si própria e todo o resto é sua mentira.

Se a pessoa estuda a Cabala, ela é capaz de ver como isto funciona; que cada um de nós é um absoluto egoista e não pensa em mais nada alem de si próprio, nem mesmo em seus filhos. Simplesmente, no presente estágio todo o sistema de pensamentos é defeituoso e parece impossível para uma pessoa fazer qualquer coisa em benefício de outra.

Só é possível doar para outro se estiver recebendo algo em troca, ou se beneficiando de alguma maneira. A pessoa não deve se envergonhar por isto. Esta é a nossa natureza. Ou recebemos para auto gratificação ou doamos com o objetivo de receber algum benefício por isto. Não é culpa de ninguem. A única coisa que precisamos fazer é ansiar por mudar nossos atributos para os do Criador.

A Cabala ensina às pessoas a aceitar as pessoas do modo em que foram criadas. Não podemos odiar alguem por causa disto nem ficar aborrecidos por que percebemos nela estes atributos. Na verdade, é difícil se comunicar com o mundo externo e ter paciência para observar o menor egoismo em alguem que encontramos. Entretanto, cada pessoa foi criada do jeito que tinha que ser. Devemos apenas tentar nos ajudar uns aos outros para mudar os atributos que recebemos em atributos altruistas.

O que é o sofrimento? É tudo aquilo que se opõe ao nosso desejo. Como diz o Talmud, se uma pessoa põe a mão no bolso tira uma moeda, mas queria outra, ela experimenta o sofrimento. O sofrimento é tudo na vida que não corresponde ao nosso desejo. Sofremos quando estamos de mau humor, doentes ou não queremos fazer alguma coisa.

Entretanto, tudo o que está sendo feito acontece para o nosso bem. De uma maneira ou de outra, tudo o que acontece nos avança em direção ao objetivo da criação. Exceto, em nossa percepção distorcida, bom parece mau e doce parece amargo.

Na realidade só é possível perceber o que é bom depois de atravessar a Machson. Neste momento, tudo é percebido como sofrimento. Isto acontece devido à falta de preenchimento pela luz. Enfim, a luz permanece do lado de fora enquanto nossos desejos não receberem a intenção altruista.

Enquanto uma pessoa não está se aproximando do espiritual, o desejo de receber é para ela o anjo da vida. Mas, pelo estudo da Cabala e pela atração para si da luz circundante, a pessoa gradualmente percebe quanto o desejo de receber é um obstáculo para a mudança da sua natureza egoista em altruismo. Ela vê que este é o verdadeiro inimigo do avanço e seus desejos se tornam o anjo da morte ao invés do anjo da vida.

Quando a pessoa consegue visualizar a maldade do seu próprio egoismo, em comparação com os atributos da luz que ele conseguiu perceber, surge um enorme desejo de remover estas correntes a qualquer custo. Mas, como uma pessoa é incapaz de fazê-lo sozinha, em desespero ela grita pelo socorro do Criador. E ela recebe esta ajuda, desde que este seja seu único desejo e seja autêntico.

Uma pessoa que queira se aproximar do espiritual deve ser como qualquer outra: tem que trabalhar como todo mundo, ter uma família e filhos. O importante é o que ela faz naquelas duas-três horas que são livres do trabalho e das responsabilidades caseiras. Fica na frente da TV ou em um restaurante, ou dedica seus esforços ao atingimento de seus objetivos espirituais?

Em qualquer caso, a pessoa não pode falar sobre o seu trabalho espiritual para ninguem; ela tem que ocultar completamente o que sente em relação ao Criador. Isto é assim para evitar danos no caminho espiritual de outras pessoas. Cada pessoa segue um caminho diferente. Quando atinge a correção total, tudo será revelado já que não haverá mais espaço para os obstáculos do ciume egoista.