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"Cabala Revelada" Episódio 10: Livre Arbítrio, Parte 1

Descrição

Anthony Kosinec continua com o artigo que descreve o caminho da pessoa desde o encobrimento total do Criador até a Sua revelação completa.

Transcrição

Cabala Revelada #10:
Livre Arbítrio, Parte 1

Palestra feita para o canal de televisão americano, Shalom TV
Anthony Kosinec

Olá novamente e bem vindo à Cabala Revelada. Eu sou Tony Kosinec.

Nesta lição começaremos a primeira de duas aulas sobre o livre-arbítrio. Vamos focar no que ele é, quando ele ocorre.

O livre-arbítrio é um tema extremamente importante e quando damos aulas para novos alunos sobre os conceitos básicos da Cabala, numa situação ao vivo, o que gostamos de fazer é distribuir um questionário e fazê-los responder a algumas questões para que eles possam guardar um registro de como é sua percepção das coisas, no início dessas lições. Então, eles poderão consultá-lo mais tarde e ver como as suas percepções mudaram.

Uma das questões que levantamos é: "Quando é que eu posso exercer minha liberdade de escolha?" Quase sem exceção, uma grande maioria entre centenas e centenas de estudantes, responde: "Eu tenho liberdade em tudo", porque é isso basicamente o que este nível de consciência representa: a crença de que podemos escolher tudo. Isso acontece porque, neste nível, o Criador está completamente oculto. Em outras palavras, nós realmente não temos qualquer idéia das leis que criam e governam nossas vidas, mas saber o que é liberdade é extremamente importante porque nós investimos uma quantidade enorme de esforço perseguindo coisas e construindo coisas, talvez durante uma vida inteira, baseados no que achamos que seja uma expressão de nossa essência, algo que nós escolhemos ser e construir. Talvez para algumas pessoas, isso seja espiritualidade; para outras pessoas, pode ser outra coisa. Mas como você pode expressar o que sua essência é se você realmente não sabe o que é o seu "eu"? A busca do "eu" - "O que é o meu eu?" - é realmente a busca por esse ponto de liberdade - a experiência de não ser restringido por aquilo "que eu não sou", de não ser coagido por forças externas ao "eu" e ser capaz de direcionar o caminho da minha vida ao longo das linhas daquilo que eu desejo, para obter o resultado desejado que se pretende.

Em lições anteriores, já aprendemos que somos afetados por forças internas e externas na estrutura da criação como um todo, e âmbos os parâmetros - interno e externo - estão sempre agindo em nós. A força interior, o parâmetro interno que atua em nós, é o fato de operarmos em um espaço limitado entre a procura por prazer e formas de evitar a dor - e estas são as forças interiores da minha programação - mas nós realmente subestimamos o efeito de nossa natureza criada, do nosso desejo de receber. Isso é tão poderoso - em termos de como reagimos às coisas - que acabamos atuando realmente como robôs em cada situação, enquanto estivermos agindo de acordo com esse programa, porque podemos até pensar que estamos escolhendo fazer certas coisas, mas nós não conseguimos escolher fora dos parâmetros de "ir em direção ao prazer e evitar a dor". Tudo o que fazemos ocorre por uma razão egoísta. Não importa como ela se pareça do lado de fora.

O grau em que o nosso egoísmo controla os acontecimentos em nossas vidas...bem, é evidente; basta olhar para o mundo e você vai ver o tipo de relações que as pessoas têm entre si. Elas parecem boas por fora, mas o que realmente ocorre é que qualquer tipo de doação, qualquer coisa que pareça ser um ato altruísta é, na verdade, sempre um cálculo para a auto-satisfação. Mesmo quando se doa grandes quantidades de dinheiro ou se despende um esforço pessoal para ajudar os pobres ou para curar os doentes, há um cálculo presente, de que o prazer vai ser recebido pela pessoa, enquanto elas agem dentro do desejo de receber. Ou isto acontecerá como forma de ser honrado pelos outros, ou na forma de prazer ao pensar que sou superior aos outros, mesmo que eu nunca lhes diga nada a respeito disso. É sempre um cálculo elaborado para recebermos prazer, dentro do desejo de receber. Ele governa tudo e, enquanto agimos dentro dele, há uma pressão constante que nos permite facilmente ser orientados de uma situação a outra, de acordo com uma pressão interna.

A pressão externa está em nosso ambiente. Nosso ambiente é composto por todas as etapas de nosso desenvolvimento prévio, o que inclui tudo o que aconteceu antes, e também, a situação em que nos encontramos no momento. Revisemos então qual é a nossa situação, em termos de onde viemos.

[Tony desenha]

Isso se reflete em nossa experiência, desta maneira [Tony desenha]. Este estado [Tony aponta para o desenho - Fase 1] é experimentado mais como uma espécie de matriz. Uma malha que contém seiscentas mil peças independentes, as almas individuais, todas relacionados umas às outras. O relacionamento, um para com o outro, e sua influência entre eles é enorme. Eles estão todos interligados, na verdade, da maneira em que eles eram interligados em seu estado original, mas a consciência desta relação está perdida para cada uma das partes individuais. Tudo o que é feito por uma dessas partes – que é um desejo individual - é sentido através desta interligação por qualquer outra das partes. Ou seja, há uma influência, uma influência enorme que se faz sentir em todo o sistema, dada a condição ou a ação interna de um desejo de qualquer uma destas partes. Portanto, nada aqui dentro realmente existe como sendo individual. Nós percebemos que isso ocorre. Esta é a sensação que temos, como resultado do ocultamento do nosso estado real de nós mesmos.

Ao invés de sentir a interconexão, o que realmente sentimos é algo mais parecido com isto [Tony desenha] - que uma pessoa existe independente dos outros, é um usufruidor e um explorador dos outros; mas na realidade a condição que percebemos é mais parecida com esta [Tony desenha]: conectados a nada. A verdade é que esta alma coletiva é o nosso meio ambiente e ele coloca uma enorme pressão sobre nós na forma de nossa sociedade, as pressões sociais, de uma maneira tal que tudo em nosso meio nos afeta. Portanto, muito do que sentimos (e vamos ver o quanto), vem daqui e não a partir daqui [Tony refere-se ao desenho].

Como você pode ver, somos influenciados por todos os lados - interna e externamente - e mesmo assim, a liberdade ainda é possível, mesmo no mundo material, nesta vida, e não em algum outro mundo, como a maioria das religiões diz. Mas é preciso um esforço muito especial, o esforço de erguer-se acima de nossa natureza, e que se tornará claro enquanto continuamos (nossos estudos).

Vamos ver como isso acontece no mundo natural. Os animais podem mostrar-nos que há uma qualidade da Natureza que realmente odeia a escravidão, que odeia a falta de liberdade. Se você capturar um animal e o mantiver em cativeiro, especialmente um animal selvagem, ele irá enfraquecer e, na maioria dos casos, ele morrerá. Mesmo com os nossos animais de estimação, animais domésticos, você tem que fazer um acordo. Você deve compensá-los pela perda da liberdade, dando-lhes uma porção de comida, oferecendo-lhes algum tipo de abrigo e uma boa dose de atenção; é preciso construir um lado da equação para o seu desejo de receber, caso contrário, eles simplesmente não verão o que está acontecendo, além da perda de liberdade. Esta é a maneira com que a Natureza é construída. A liberdade é uma força poderosa e tudo é guiado na direção dessa liberdade.

Os animais não cometem erros, porque eles agem completamente dentro da lei da Natureza. Por exemplo: um gato pode saltar sobre uma mesa ou até sobre um muro, mas se você olhar realmente de perto, e eu já vi isso em câmera lenta, o gato vai saltar, mas há um ponto em que ele parece quase ser levantado, e apenas aterrissa precisamente no local. É como se ele estivesse no fluxo de algum tipo de energia que simplesmente o coloca lá. E os animais não cometem erros, porque eles não são movidos pelo conhecimento; eles próprios não calculam nada.

Um animal quando nasce sabe o que é bom para ele comer, e sabe onde encontrar. E nada disto é proveniente da inteligência, tudo é instintivo, está tudo lá, pronto para o animal. Mesmo quando nos parece que um animal está cometendo um erro, como talvez quando um animal é comido por outro, para qual animal isto é um erro? Para aquele que foi comido ou para aquele que o comeu?

Nós vemos esta cena como um erro, porque estamos parcialmente imbuídos desse nível animal, de que uma parte de nós é um animal, e não podemos enxergar completamente fora do sistema, e então nós aplicamos esse aspecto à cena e acreditamos que estamos vendo alguém perdendo e alguém ganhando alguma coisa, quando, na verdade, o animal em si está agindo totalmente dentro da Natureza e é parte de um sistema - que funciona como uma célula dentro de um órgão ou um órgão dentro de um corpo -, operando apenas para a satisfação do organismo como um todo, e não para o indivíduo; e tudo o que acontece, inclusive quando é hora de viver e quando é hora de morrer, ocorre em concordância com a lei da Natureza, porque o animal está preso a ela.

Assim, você pode ver como tudo é completamente predeterminado nesse nível. Na verdade, o que chamamos de "instinto" é a predeterminação desse nível.

Você pode observar a condição de um animal - pelo menos um biólogo pode -, localizar um animal geograficamente, observar a época do ano, e ser capaz de determinar, de acordo com, digamos, a idade desse animal, e todos os demais fatores, qual será a próxima condição dele, porque conhecemos os fatores que o influenciam; e podemos ver até certo ponto, porque estamos acima desse nível do sistema, mas não conseguimos vê-lo atuando sobre nós mesmos. E o fato de não o enxergarmos é o que realmente chamamos de "livre-arbítrio." Para os humanos, o livre-arbítrio consiste em falta de informação. Isto ocorre por ignorância, porque não podemos ver quais são os fatores que nos influenciam. Em seu lugar, temos a sensação de que eles realmente não existem, que todas essas condições que temos são do tipo aleatórias, elas são uma questão de destino e que uma pessoa tem sua própria resposta individual para tudo e faz completamente seu próprio caminho. Nós realmente não sentimos quando as influências agem sobre nós.

Assim, nós temos esta vaga sensação do que é o livre-arbítrio, mas não podemos defini-lo. Nós continuamos em busca da liberdade de todas as maneiras inerentes ao sistema humano. Uma das maneiras mais claras de podermos ver esta mudança de direção e busca pela liberdade está na evolução dos sistemas políticos.

O que acontece nas organizações de pessoas é que tudo está bem até que sentimos que existe algum tipo de restrição à nossa capacidade de satisfazer certos desejos. O sistema parece falhar para nós e depois há uma espécie de revolução dentro dele, há uma necessidade de mudança, porque nós começamos a sentir um tipo de coerção que vem de fora. E assim, assistimos à mudança de direção de todos os tipos de sistemas ao longo do tempo, desde os caçadores-coletores, e desde aquele tipo de sistema, para "isto simplesmente não é suficiente e não nos permitirá cumprir certos tipos de desejos", assim grandes organizações ocorrem; parentescos, e ainda assim o indivíduo acha que ele não pode cumprir o que ele quer cumprir, e então as formas de democracia surgem. Isto constantemente se inverte, mas é sempre uma expansão apenas no nível do egoísmo. Mesmo que passemos por este processo, ele é um processo pré-determinado e nós nunca realmente alcançaríamos a liberdade, pois ela está sempre no nível da expansão da nossa natureza, e o lugar da liberdade, o ponto de liberdade, aparentemente, não está lá.

Você sabe, pode ser que esse ponto de liberdade não seja tão vasto como pensamos que é, que ele seja realmente um fator determinante ínfimo, algo muito pequeno no âmbito de nossa experiência. Algo pequeno, porém extremamente poderoso e, na verdade, tudo o que é necessário.

Na Cabala há uma lei que diz: "Não há coerção na espiritualidade". Não é possível chegar à espiritualidade sem liberdade. Em outras palavras, um Cabalista não irá dizer a você: "Você deve fazer isto e você não deve fazer aquilo". Durante toda a nossa jornada, a espiritualidade deve ser feita de liberdade. Ou seja, você deve sentir-se livre nela, o próprio caminho deve ser livre, e o objetivo em si tem que ser a liberdade. Isso porque você só vai fazer o que você considera ser bom para você. Essa é a maneira que este sistema é construído e é assim que nós evoluímos. Ou seja, você só vai escolher de acordo com seus desejos. Mas a pergunta é: "De onde vêm os seus desejos? Quais são seus desejos?"

Nós somos "instalados" nesta vida. Você faz parte de uma família, mas você não a escolheu. E, no entanto, existem todos os tipos de influências em você. O que você é, o seu caráter, tudo é moldado pelos valores de sua mãe e de seu pai, sua comunidade, sua escola, seu grupo de amigos, e tudo o que se desenvolve em você, em termos de sua personalidade; o que você valoriza, o que você sonha, como você supõe a limitação das coisas, tudo isso é definido para você por aquela situação. Você pode, como um adolescente, querer rebelar-se. Mas isso também não é liberdade, porque agir dessa maneira é estar sempre apenas em oposição às coisas que são apresentadas diante de você, porque você não está criando essas coisas; você está simplesmente respondendo ao conjunto de escolhas. Em outras palavras, se você vai ter um sonho de como será sua vida, ela será um entre um grupo de números definido para você. É como escolher itens em um menu. E mesmo quando você abandona esse tipo de situação - da sua escola e da forte influência de seus pais -, e parte para fazer seu caminho no mundo, você ainda nota que essa organização e pressão da sociedade ainda afetam a pessoa.

Aquilo que achamos mais valioso é o que é anunciado para nós. Se optarmos por valorizar alguma coisa mais, será também um dos itens que estão no menu. Isso é uma questão de nós trabalharmos tanto de acordo com a nossa programação interna, ou seja, iremos escolher de acordo com o que nós sentimos que é desejável para nós, de acordo com o que é amargo e o que é doce - o que queremos e o que desejamos evitar? –e iremos escolher entre as coisas que nos são apresentadas pela sociedade.

Então, se eu ajo de acordo com a programação, isto é liberdade?

Até mesmo os nossos mais íntimos pensamentos e desejos - e os geneticistas são capazes de nos mostrar - na verdade não são nossos, são todos previsíveis. De uma tendência ao abuso de drogas ou álcool, a saber se uma pessoa teria uma natureza criminosa ou se seriam cidadãos cumpridores dos direitos; e até mesmo estados de euforia que nós consideramos serem experiências religiosas, podem ser determinados posicionando-se sondas no cérebro.

Então, onde está a liberdade dos desejos resultantes de um "eu" individual? Isto é Ciência Natural e nos revela como as ações são determinadas por nossa natureza egoísta. A Cabala nos mostra algo ainda mais avançado do que aquilo que está gravado em uma espécie de código genético espiritual, através dos quais somos programados não apenas em uma vida, mas numa multiplicidade de vidas, e nosso desenvolvimento está totalmente preparado para nós no sistema de Reshimot, ou seja, as lembranças das fases em que descemos a partir da raiz da nossa alma.

Então, se todos nós somos apenas robôs cumprindo nossa programação egoísta ou o nosso desenvolvimento espiritual, onde está a liberdade nesse sistema? O "eu" da pessoa, o ponto de liberdade existe, mas não em tudo. Nós estamos completamente sujeitos às forças que se desenvolvem em nós, interna e externamente. Mas assim como há um meio na Cabala de usar nossa natureza interior, que é o desejo de receber e transformá-lo em desejo de doar, também há um ponto de liberdade que existe dentro do ambiente que nos rodeia. Existe uma maneira de aprender como funciona o sistema de influência e aproveitá-lo, para catapultar-nos para fora dele em um nível mais elevado de vida, em um vínculo com o Criador. E esse elemento é a raiz de nossa alma. A raiz da nossa alma é o desejo de pular para fora do sistema, em direção à liberdade, e ele não é influenciado por qualquer objeto de nossa natureza egoísta, incluindo o ambiente inteiro - interno e externo.

Se nos apegamos a esse parâmetro, este único parâmetro, se o nutrirmos e o desenvolvermos e o desenvolvermos por si só, então conseguiremos nos elevar acima desse nível de influência. Os Cabalistas nos oferecem um meio de fazer isso.

Na próxima aula, vamos continuar a nossa investigação sobre a liberdade, focando nossa atenção num artigo intitulado “A liberdade” de Baal HaSulam. Neste artigo, ele nos mostra exatamente o que os parâmetros de influência são, como funcionam em nós ao longo de uma multiplicidade de vidas, e como aproveitar aquela pequena parte que nos permitirá abandonar nossas percepções limitadas e entrar no mundo espiritual e cumprir o Pensamento da Criação, que é a ligação com o Criador.

Até lá.